domingo, 9 de novembro de 2008


Que eu me permita, olhar e escutar e sonhar mais, falar menos, chorar menos.
Ver nos olhos de quem me vê, admiração que eles me têm e não inveja que penso que têm prepotentemente
Escutar com meus ouvidos atentos e a minha boca estática as palavras que se fazem gestos e os gestos que se fazem palavras.
Permitir sempre escutar aquilo que eu não tenho me permitido escutar
saber realizar os sonhos que nascem em mim e por mim e comigo morrem por eu não os saber sonhos.
Então, que eu possa viver os sonhos possíveis e os impossíveis, aqueles que morrem e ressuscitam a cada novo fruto, a cada nova flor, a cada nova geada, a cada novo dia.
Que eu possa sonhar o ar, sonhar o mar, sonhar o amor.
Que eu me permita o silêncio das formas, dos movimentos, do impossível, da imensidão de toda profundeza.
Que eu possa substituir minhas palavras pelo toque, pelo servir, pelo compreender, pelo segredo das coisas mais raras, pela oração mental (aquela que a alma cria e que só ela, alma, ouve e só ela, alma responde)
Que eu saiba dimensionar o calor, experimentar a forma, vislumbrar as curvas, desenhar as retas, aprender o sabor da exuberância que se mostra nas pequenas manifestações da vida.
Que eu saiba reproduzir na alma a imagem que entra pelos meus olhos fazendo-me parte suprema da natureza, criando-me e recriando-me a cada instante.
Que eu possa chorar menos de tristeza e mais de contentamentos
Que meu choro não seja em vão, que em vão não sejam as minhas duvidas.
Que eu saiba perder meus caminhos, mas saiba recuperar meus destinos com dignidade
Que eu não tenha receio de nada, principalmente de mim mesma
Que eu não tenha medo dos meus medos!
Que eu adormeça toda a vez que for derramar lágrimas inúteis e desperte com o coração cheio de esperanças-
Que eu faça de mim uma mulher serena, dentro da minha própria turbulência, sábia dentro de meus limites, pequenos e inexatos, humilde diante minhas grandezas, tolas e ingenuas.
Que eu me permita ser mãe, e, se for preciso, ser orfã
Permita-me ensinar o pouco que sei e aprender o que não sei, traduzir o que os mestres ensinaram e compreender a alegria com que os simples traduzem a sua experiência.
Respeitar incondicionalmente o ser; o ser por si só, por mais nada que possa ter além de sua essência, auxiliar a solidão de quem chegou, render-me ao motivo de quem partiu e aceitar a saudade de quem ficou.
Que eu possa amar e ser amada.
Que eu possa amar mesmo sem ser amada, fazer gentilezas quando recebo carinho; fazer carinhos mesmo quando não recebo gentilezas
Que eu jamais fique só, mesmo quando eu me queira só

Oração de Oswaldo António Begiato

1 comentário:

Ana Guerreiro disse...

Lindo... oração e foto! Um momento de Paz que todos deveríamos arranjar... Um beijinho!